Gárgulas

sábado, 20 de fevereiro de 2010.

Crê-se que as chamadas gárgulas, figuras por vezes igualmente quiméricas, começaram por ser aplicadas para embelezar os orifícios por onde as águas escorriam dos telhados para o chão.
Sabe-se que já em algumas edificações gregas, ao longo dos rebordos dos telhados inclinados,nas extremidades destes e, eventualmente, também ao longo das paredes, existiam pequenas caleiras para recolha da água das chuvas, que era canalizada para orifícios por onde se escoava. Em alguns casos, a água era conduzida para baixo por uma conduta, cuja extremidade inferior encaixava por detrás da escultura de uma cabeça de leão, de modo que a boca jorrasse a água para longe (mais uma vez a figura do leão surge como protetora não só contra os inimigos terrenos, como contra espíritos malignos).
Mas seria sobretudo na época medieval, mais precisamente no período entre os séculos XII e XV, a partir da construção das grandes catedrais góticas, que as gárgulas viriam a popularizar-se na Europa Ocidental, principalmente na França, embora também na Inglaterra e, em menor escala, em outros países. Porém, nessa altura, as temáticas representadas tinham já recebido influências de outros povos e culturas, como os Celtas e os Normandos, muito embora sob o olhar atento da Igreja de Roma.
Segundo parece, as gárgulas começaram por ser peças em madeira ou cerâmica. Porém, só após se ter generalizado o uso da pedra para essa finalidade (sobretudo o calcário ou o mármore, embora tenham também existido esculturas em terracota, que não chegaram aos nossos dias) é que surgiu a possibilidade de passar a esculpir as figuras com maior riqueza de pormenor. São igualmente conhecidos alguns exemplos, relativamente raros, feitos em metal.
Quando nos referimos às gárgulas, talvez nos venha à mente as numerosas criaturas grotescas que podemos encontrar na catedral parisiense de Notre-Dame – incontornável exemplo clássico, inspirador de histórias que incluíam personagens como Quasímodo, o famoso corcunda, criado pelo romancista francês Victor Hugo.
Tal como sucedia nas construções gregas, um dos motivos mais correntemente apontados para a utilização das gárgulas refere a necessidade, em termos de conservação das obras arquitetônicas, de fazer com que a água das chuvas que se abatiam sobre os edifícios fosse captada após escorrer pelas paredes, conduzida por caleiras que separavam essas escorrências em várias direções, e levando a que fossem projetadas para longe das paredes e fundações no exterior das construções, evitando assim que se infiltrassem no solo junto aos alicerces, onde acabariam por dissolver as argamassas e arruinar as alvenarias, ou que desgastassem as pedras exteriores, trazendo perigo à estabilidade da construção.
Para que essas tão necessárias goteiras, que seriam protuberâncias inestéticas destacadas visivelmente nas esquinas, não destoassem no conjunto harmônico de toda a edificação, teria então surgido a hipótese de as ornamentar com esculturas. Porém, pelo menos de início, isso só acontecia nos edifícios de maior porte ou nas construções pertencentes aos mais abastados, já que se tratava de um tipo de trabalho bastante caro para a época – à semelhança do que ocorria com outras figuras no interior dos templos, as gárgulas também eram ricamente pintadas e algumas chegavam a receber ornamentos dourados.


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